SOBRE

Tendo ancestrais no lugar das Fontainhas (cidade do Porto), decidi escolher a varanda sobre o Douro como tema de investigação do meu Mestrado de História e Património na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O resultado foi maravilhoso. Apaixonei-me pelo lugar e pelas histórias contadas pelos seus habitantes. Lugar este que havia sido o berço da alguma da minha ancestralidade paterna. Acabei por fazer amizades muito importantes nas Fontainhas e uma delas trata-se de uma pessoa iluminada e com um coração enorme chamada Soraia Gomes, Coaching de desenvolvimento pessoal. Depois de alguns minutos de conversa descobrimos que tínhamos muito em comum. Amávamos não só as Fontainhas, mas também a sua história e os seus habitantes. Seguindo estas paixões, realizamos projectos juntas para a comunidade e para as Fontainhas. Queríamos que as Fontainhas fosse novamente um lugar de bom convívio.
Nos eventos, observamos nos olhos dos habitantes alegria, emoção, amor, orgulho pela uma história que havia sido recuperada.
Um evento concreto foi realizado em 2018 e tratou-se de uma Recriação das Lavadeiras.
Nesse dia, as mulheres da comunidade orgulhosamente vestiram-se como as suas mães, suas avós e bisavós e lavaram a roupa nos lavadouros do lugar. Lavadouros que contam com mais de 200 anos e sempre foram um local de conversa e encontro da comunidade. Contudo, com a chegada das maquinas de lavar roupa estes lavadouros foram abandonados. 
Neste dia este lugar foi ocupado pelas mulheres da comunidade que lavaram as suas roupas. Os homens assistiam de cima do muro as suas mulheres lavarem a roupa e a recriarem também as suas mães e avós.
Eu que nunca havia lavado num tanque e por isso quis também fazer parte da recriação. Para meu espanto tudo surgiu normalmente. Olhando em volta percebi que aquelas mulheres não estavam actuando uma recriação elas estavam de facto a lavar as suas roupas. Estava-lhes no sangue. Por várias gerações, mulheres guerreiras haviam estado ali no mesmo local a lavar as roupas e essas mulheres haviam passado para as suas descendentes o ato de lavagem de roupa num lavadouro. Assim naquele dia honramos os nossos ancestrais ao recriar um momento que fazia parte da vida deles diariamente.
Logo entendi a importância dos meus ancestrais. Os nossos antepassados não estão presentes, contudo todos os dias que nos olhamos no espelho vemos-los nos nossos olhos, na nossa boca, no nosso cabelo, etc. Tudo ou quase tudo o que somos deriva deles mesmo sem percebermos. A nossa forma de falar, os nossos pensamentos, os nossos hábitos derivam deles. Assim, ao descobrimos os nossos antepassados acabamos por fazer uma viagem de descoberta pessoal.
O viver as Fontainhas é actualmente um projecto de comunidade em que eu e Soraia Gomes trabalhamos para recuperar as memórias perdidas das Fontainhas.